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Para milhares de estudantes do Rio Grande do Sul, 2020 foi um ano de portões fechados para o aprender nas escolas reais e também nas virtuais. Um prejuízo que ainda é difícil de calcular.

Um estudo da Fundação Lemann aponta que, só nos anos finais do ensino fundamental, os estudantes gaúchos deixaram de aprender, em 2020, cerca de 30% do que deveriam ter aprendido em português e matemática. Na projeção mais otimista, é como se eles estivessem parados em 2019.

"A gente já chegou no limite deste processo. O que a pesquisa está mostrando e o pais estão nos dizendo é que os alunos estão desmotivados, que existe receio que abandonem os estudos ou percam o interesse. E, além de tudo, que não estão verificando avanço no aprendizado", observa o diretor de Políticas Educacionais da Fundação Lemann, Daniel de Bonis.

Pesquisas como esta tentam agora medir o tamanho desse buraco, bem como o impacto disso para o futuro de gerações. O estudo projeta cenários ainda piores, com um retrocesso que pode chegar até quatro anos nos níveis de aprendizagem, caso as escolas sigam fechadas, e os alunos, aprendendo apenas no sistema remoto.

Estudo compartilhado

 

Em torno de 40% das famílias que têm filhos na rede pública acreditam que eles não estão evoluindo nos estudos. O problema é ainda maior entre os alunos negros, de famílias com renda até um salário mínimo e que vivem nas periferias ou áreas rurais.

A estudante Débora Vitória Fonseca, de 15 anos, vive com a mãe em numa área periférica na Zona Norte de Porto Alegre, bem no limite com Alvorada, onde fica a escola estadual que ela frequenta.

No ano passado, ela ganhou um tablet para acompanhar as aulas online, mas o equipamento foi roubado, o celular da mãe também, e elas não têm acesso a internet.

Quando perguntada se aprendeu alguma coisa nova, ano passado, a Debora é taxativa. "Não", diz ela.

A mãe dela, Kéurille Freitas dos Santos, acha que ainda é arriscado mandar a filha para o ensino presencial. As aulas seguem no modelo híbrido — um pouco na escola, um pouco em casa — pelas plataformas online.

Com a ajuda de uma colega, em alguns dias da semana Débora caminha algumas quadras até a casa da Caroline, na cidade vizinha, para estudar um pouco do conteúdo do sétimo ano.

"Ela tem celular e wi-fi. Ela me ensina as coisas que estão acontecendo e a gente vai aprendendo juntas", explica.

Caroline Abreu Schuaste, de 16 anos, explica que o método de estudo das duas combina justamente esta troca de informações.

"A gente estuda duas matérias, vai copiando e conversando sobre qual resposta acha que é. Quando tem texto, a gente pesquisa no texto e no livro. E quando não entende, pergunta para a mãe. Acho importante porque tem pessoas que não têm internet e têm que aprender. Se não fosse eu, ela não estaria aprendendo. Acho que sou a amiga mais próxima", diz Caroline.

As duas são estudantes da mesma turma, na mesma escola, mas com realidades distintas de acesso à internet. Extremos que se reproduzem em toda a rede estadual e viram um marcador de desigualdade, já que alguns alunos atingem quase 80% de engajamento ao ensino remoto e outros nem sequer 20%.

Desigualdade social, econômica e educacional

 

Mais da metade das famílias ouvidas na pesquisa promovida pela Fundação Lemann disseram que os filhos que estão na alfabetização não aprenderam nada de novo nessa etapa ou desaprenderam o que sabiam.

"Esse estudante precisa da interação com o professor, a convivência na sala de aula. Em uma tela, à distância, é muito difícil para uma criança dessa idade se concentrar, se conectar com o professor", observa de Bonis.

A distância dos professores, nesse caso, só piorou um problema antigo no sistema educacional brasileiro.

 

 

Autor: Cristine Galissa

Fonte: g1.globo.com

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